terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lembrando Manolete - João Cabral


‎Lembrando Manolete

Tourear, ou viver como expor-se;
expor a vida à louca foice

que se faz roçar pela faixa
estreita de vida, ofertada

ao touro; essa estreita cintura
que é onde o matador a sua

expõe ao touro, reduzindo
todo o seu corpo ao que é seu cinto,

e nesse cinto toda a vida
que expõe ao touro, oferecida

para que a rompa; com o frio
ar de quem não está sobre um fio.

João Cabral de Melo Nelo

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Saber comunicar-se - Mario Vargas Llosa

"Falava coisas singelas e importantes, sem olhar a ninguem em especial da gente que lhe rodeava, ou melhor, olhando, com seus ohos incandecentes, através do corro de velhos, mulheres, homens e meninos, algo ou alguém que só ele podia ver. Coisas que se entendiam porque eram obscuramente sabidas desde tempos imemoriais e que alguém aprendia com o leite que mamava."

Mario Vargas Llosa in 'A guerra do fim do mundo'

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Destruir - Walter Benjamin

Destruir é jovem e sereno. Destruir rejuvenesce, porque afasta as marcas de nossa própria idade, reanima. O que leva a esta imagem apolínea do destruidor é, o reconhecimento de que o mundo se simplifica terrivelmente quando testa o quanto ele merece ser destruído. Este é o grande vínculo que envolve, na mesma atmosfera, tudo o que existe. É uma visão que proporciona ao caráter destrutivo um espetáculo da mais profunda harmonia.

Walter Benjamin

quinta-feira, 24 de março de 2011

Concrete Jungle - Bob Marley



No sun will shine in my day today
(No sun will shine.)
The high yellow moon won't come out to play
(Won't come out to play.)
Darkness has covered my light (and has changed,)
And has changed my day into night
Now where is this love to be found, won't someone tell me?
'Cause life, sweet life, must be somewhere to be found, yeah
Instead of a concrete jungle where the livin' is hardest
Concrete jungle, oh man, you've got to do your best, yeah.

No chains around my feet, but I'm not free
I know I am bound here in captivity
And I've never known happiness, and I've never known sweetcaresses
Still, I be always laughing like a clown
Won't someone help me?
Cause, sweet life, I've, I've got to pick myself from off theground, yeah
In this here concrete jungle,
I say, what do you got for me now?
Concrete jungle, oh, why won't you let me be now?

I said life, sweet life, must be somewhere to be found, yeah
Instead of a concrete jungle, illusion, confusion
Concreate jungle, yeah
Concrete jungle, you name it, we got it, concrete jungle now

Concrete jungle, what do you got for me now

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Entre nós e tudo tem muito de nós



As necessidades do corpo são a justa medida do que cada um de nós deve possuir. Exemplo: o pé só exige um sapato à sua medida. Se assim considerares as coisas, respeitarás em tudo quanto faças as devidas proporções. Se ultrapassares estas proporções, serás, por tal maneira de agir, necessariamente desregrado como se um precipício te seduzisse.

Epicteto, in 'Manual'

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dois e Dois são Quatro - Ferreira Gullar



Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.

Ferreira Gullar

domingo, 28 de novembro de 2010

Mr. Tambourine Man - Bob Dylan


Composição: Bob Dylan

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
I'm not sleepy and there is no place I'm going to.
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
In the jingle jungle morning I'll come followin' you.

Though I know that evenin's empire has returned into sand,
Vanished from my hand,
Left me blindly here to stand but still not sleeping.
My weariness amazes me, I'm branded on my feet,
I have no one to meet
And the ancient empty street's too dead for dreaming.

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
I'm not sleepy and there is no place I'm going to.
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
In the jingle jungle morning I'll come followin' you.

Take me on a trip upon your magic swirlin' ship,
My senses have been stripped, my hands can't feel to grip,
My toes too numb to step, wait only for my boot heels
To be wanderin'.
I'm ready to go anywhere, I'm ready for to fade
Into my own parade, cast your dancing spell my way,
I promise to go under it.

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
I'm not sleepy and there is no place I'm going to.
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
In the jingle jungle morning I'll come followin' you.

Though you might hear laughin', spinnin', swingin' madly acrossthe sun,
It's not aimed at anyone, it's just escapin' on the run
And but for the sky there are no fences facin'.
And if you hear vague traces of skippin' reels of rhyme
To your tambourine in time, it's just a ragged clown behind,
I wouldn't pay it any mind, it's just a shadow you're
Seein' that he's chasing.

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
I'm not sleepy and there is no place I'm going to.
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
In the jingle jungle morning I'll come followin' you.

Then take me disappearin' through the smoke rings of my mind,
Down the foggy ruins of time, far past the frozen leaves,
The haunted, frightened trees, out to the windy beach,
Far from the twisted reach of crazy sorrow.
Yes, to dance beneath the diamond sky with one hand wavingfree,
Silhouetted by the sea, circled by the circus sands,
With all memory and fate driven deep beneath the waves,
Let me forget about today until tomorrow.

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
I'm not sleepy and there is no place I'm going to.
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
In the jingle jungle morning I'll come followin' you.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A reinvenção do mundo em mim - Vergílio Ferreira

"Tem-se o poder absoluto de se ser, sem obrigações. As obrigações obrigam porque há muita gente e nós estamos no meio dela. Dentro de nós não há mais ninguém. Só se deixamos a porta aberta e entram sem darmos conta. Dentro não há mais ninguém e então é que sim. Ser-se obrigado a ser-se - Solitária praia sem justificação. Sol nítido outra vez, a nuvem passou. Passa ao longe sobre as águas um voo tremulo de gaivota - ou é uma vela? um voo sacudido de borboleta. Pequena mancha branca, estremece ou estremeceram nela os meus olhos. Estremeço todo eu, quando me descubro, tão forte da reinvenção do mundo em mim, tão frágil da oposição do mundo a mim." Vergílio Ferreira in Nítido Nulo

sábado, 4 de setembro de 2010

Do como aconteceu o mundo num dia - Alberto Caeiro

Num dia excessivamente nítido
Dia em que dava vontade de ter trabalhado muito
Para nele não trabalhar nada,
Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,
O que talvez seja o Grande Segredo,
Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.
Vi que não há natureza,
Que Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que num conjunto real é verdadeiro
É uma doença das nossas idéias.

A Natureza é partes se um todo.
Isto é talvez o tal mistério de que falam.

Foi isto o que sem pensar nem parar,
Acertei que devia ser a verdade
Que todos andam a achar e que não acham,
E que só eu, porque a não fui achar, achei.

Alberto Caeiro in XLVII (F.P.)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Matéria bruta - Vergílio Ferreira

"nao compreendia a vida sem um dominio pessoal. Porque estar vivo era decifrar o mundo com olhos próprios, descobrir, em tudo o que o rodeasse, a presença do próprio destino. E o seu destino, bons deuses, era poder, rachar." - Vergílio Ferreira em Mudança