Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Pablo Neruda - trecho da poesia 'O Poço'.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
A tua calma me saudará - Pablo Neruda
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
A Luta pela Recordação - Pablo Neruda
Os meus pensamentos foram-se afastando de mim,
mas, chegado a um caminho acolhedor,
repilo os tumultuosos pesares e detenho-me,
de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida.
Só vivi ontem. Ele tem agora essa nudez à espera do que deseja,
selo provisório que nos vai envelhecendo sem amor.
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido,
longas caravanas de caminhantes que,
chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação,
entoam canções e recordam.
E algo me diz que mudaram para se deter,
que falaram para se calar,
que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento,
procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes.
Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...
Pablo Neruda, in 'Nasci para Nascer'