Tudo entra em perspectiva agora,
de pensar que naquela linda e brilhante esfera
guerras sao lutadas
tempestades destroem
pessoas nascem
pessoas morrem
nosso conflito humano
nossa paixao
nossa dor
seguem sob o véu de um azul anuviado
(Neil Armstrong - o primeiro homem que pisou na lua)
sábado, 31 de outubro de 2009
Perspectiva - Neil Armstrong
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Saudade de pedra - Fernando Pessoa
"Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha."
Fernando Pessoa in Ode Marítima
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Passo em falso - Vergílio Ferreira
“...Se tu soubesses como é difícil. Ter a verdade inteira nas mãos e ela não ser. Saber que é a verdade da vida e a vida dizer não. Como a mulher que nos deseja e nos recusa, nunca soube porquê – para nos irritar? Para se valorizar ou adiar o prazer. Pago ao graxa, atiro a moeda pelo ar para entrar no seu jogo, ele apara-a, mete-a ao bolso, afasta-se com o caixote sem dizer palavra. Saio à rua, vou pela cidade a passos vãos, à procura de entender. É o fim da tarde de um dia de Inverno. Reconheço-o nos pássaros guizalhando pelas árvores, uma melancolia retraída que no Verão não há. Vera mora um pouco longe, mas tenho tempo, apetece-me andar. É a hora viva do tráfego, as luzes acendem-se pelo ar, as vitrinas iluminam-se – e se soubesses como é difícil. Porque um secreto mecanismo tudo subverteu. Não estava lá o que eu disse, não estava mesmo no programa de Teófilo – estava onde? Como bichos terrestres, os olhos acesos, passam os carros, levam a cidade toda na sua ronda – estava onde?”
Vergílio Ferreira in Nítido Nulo
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
a morte de Cyrano - do filme
Tarde demais.
Vou subir na lua brilhante,
mais uma alma que eu amo e que deve exilar-me.
Reencontrarei Sócrates e Galileu.
Filósofo, físico,
poeta, soldado
músico. E viajante dos ares.
Bom de respostas rápidas.
Amante também, mas não de si mesmo.
Um Hercule Savinien
de Cyrano de Bergerac.
Que foi tudo, e não foi nada.
Mas eu me vou,
me perdoem
não posso esperar.
Vêem? Um raio de lua vem me buscar.
Não me impeçam.
Está nas árvores.
Ela vem.
Posso ver sua beleza de mármore.
Vestida de chumbo.
Já que está lá irei de encontro a ela.
Com a espada na mão.
Eu lhe digo, é um clichê! É inútil!
Mas sei que sua resposta será não.
é bonito ainda que seja inútil.
Quem são todos aqueles ali?
São os mil?
Eu os reconheço todos os meus velhos inimigos.
as mentiras, as covardias, os compromissos.
Sei que no final irá me derrotar,
não me importo!
Me debato! Me debato!
Me debato!
Me arranque tudo,
os louros e a rosa.
Arranque! Você ainda tem alguma coisa que me importa.
Essa noite, quando entrar na casa de Deus,
minha saúde varrerá os portões azuis.
Nenhuma coisa sem uma dobra, sem uma mancha, me importa apesar de você
meu penacho...
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
na raridade do que é belo - Sávio
lambuso-me com tudo o que é belo,
nesse mundo sou criança que se abasta a todo contento!
(Sávio)
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
A formiga e a pedra - Sávio
Quem dera todos os mares fossem calmos,
os gregos teriam nos descoberto antes de cristo!
à você eu não teria chegado,
Avulso no mundo seria pela calma,
afetado comigo mesmo talvez estivesse sempre,
preso no convulso do nada.
Mas os mares são tortuosos,
meu coração bate em resposta à onda imensa que se empenha contra mim,
e meus olhos arregalados seguram qualquer coisa onde me apoiar.
Que venha onda imensa!
e somente no fundo do mar estarei contido!
pelo contrário avanço sempre,
existe uma América nova a ser descoberta!
(Sávio)