domingo, 26 de abril de 2009

o sentimento do mundo - Sávio

leva por onde for toda a razão que ganho no peito quando penso em vc!
(Sávio)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O espaço da compreensão - Levinás

"...o objeto se dá, mas nos espera."
(Levinás)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Childhood's End - David Gilmour

You shout in your sleep.
Perhaps the price is just too steep.
Is your conscience at rest
If once put to the test?
You awake with a start
To just the beating of your heart.
Just one man beneath the sky,
Just two ears, just two eyes.
You set sail across the sea
Of long past thoughts and memories.
Childhood's end, your fantasies
Merge with harsh realities.
And then as the sail is hoist,
You find your eyes are growing moist.
All the fears never voiced
Say you have to make your final choice.
Who are you and who am I
To say we know the reason why?
Some are born; some men die
Beneath one infinite sky.
There'll be war, there'll be peace.
But everything one day will cease.
All the iron turned to rust;
All the proud men turned to dust.
And so all things, time will mend.
So this song will end.

David Gilmour in Obscured by Clouds

segunda-feira, 30 de março de 2009

Fotografar - Manuel de Barros


Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei sobre. Foi difícil fotografar sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
(Manuel de Barros)

Sexo - Walt Whitman


O sexo contém tudo: corpos, almas, sentidos, provas, purezas,
delicadezas, resultados, avisos, cantos, ordens, saúde, o mistério materno, o leite seminal, esperanças, benefícios, todas as dádivas, paixões, amores, encantos, gozos da terra, todos os deuses, juízes, governos, pessoas no mundo com seguidores, tudo isto está no sexo contido ou como parte dele ou como sua razão de ser.
(Walt Whitman)

segunda-feira, 2 de março de 2009

A nova proposta - Krishnamurti

"Não aceitar as coisas como elas são, mas entendê-las, mergulhar nelas, examiná-las. Use o seu coração, a sua mente e tudo o que você tem pra descobrir, um jeito diferente de viver. Mas isso depende de você e de mais ninguém. Porque nisso não há professor, nem aluno, não há líder, não há guru, não há mestre, não há salvador, você mesmo é o professor, o aluno, o mestre, o guru, o líder, você é tudo!E entender, é transformar o que há!"
(Krishnamurti)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A poesia - Manoel de Barros

"A poesia, a poesia está guardada nas palavras
É tudo que eu sei
Meu fado é não entender quase tudo
Sobre o nada eu tenho profundidades
Eu não cultivo conexões com o real
Para mim poderoso não é aquele que descobre o ouro
Poderoso pra mim é aquele que descobre as insignificancias do mundo e as nossas
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil
Fiquei emocionado e chorei
Sou fraco para elogios."
(Manoel de Barros)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A perspicácia

nada se passa diante, mas atrás dos olhos!
(savio)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O ato Poético - Eugénio de Andrade

O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação. Este fogo do conhecimento, que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e consome, é a sua moral. E não há outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto uma singularidade como uma pluralidade. Mas, curiosamente, o espírito humano atenta mais facilmente nas diferenças do que nas semelhanças, esquecendo-se, e é Goethe quem o lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, tão fiel ao homem, acaba por ser palavra de escândalo no seio do próprio homem. Na verdade, ele nega onde outros afirmam, desoculta o que outros escondem, ousa amar o que outros nem sequer são capazes de imaginar. Palavra de aflição mesmo quando luminosa, de desejo apesar de serena, rumorosa até quando nos diz o silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é o poeta, tem a nostalgia da unidade, e o que procura é uma reconciliação, uma suprema harmonia entre luz e sombra, presença e ausência, plenitude e carência.

Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário'

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O criador soube repetir a imagem da sua própria condição - Albert Camus


Considera-se, muitas vezes, a obra de um criador como uma sequência de testemunhos isolados. Confunde-se então artista e literato. Um pensamento profundo está em perpétua formação, esgota a experiência de uma vida e nela se modela. Do mesmo modo, a criação única de um homem fortifica-se nos seus rostos sucessivos e múltiplos, que são as obras. Umas completam as outras, corrigem-as ou alcançam-as, contradizem-as também. Se alguma coisa termina a criação, não é o grito vitorioso e ilusório do artista, ofuscado: «Disse tudo», mas a morte do criador que fecha a sua experiência e o livro do seu génio.

Esse esforço, esta consciência sobre-humana, não aparece forçosamente ao leitor. Não há mistério na criação humana. É a vontade que faz esse milagre. Em todo o caso, não há verdadeira criação sem segredo. Sem dúvida, uma sequência de obras pode não passar de uma série de aproximações do mesmo pensamento. Mas podemos conceber outra espécie de criadores que procederiam por justaposição. As suas obras podem parecer sem relação entre si. Em certa medida, são contraditórias. Mas, colocadas de novo no seu conjunto, denunciam uma ordem. É, pois, da morte que recebem o seu sentido definitivo. Aceitam a sua luz mais clara da própria vida do seu autor. Nesse momento, a sequência das suas obras não é mais do que uma colecção de fracassos. Mas, se esses fracassos conservam todos a mesma ressonância, o criador soube repetir a imagem da sua própria condição, fazer ressoar o estéril segredo de que é detentor.

Albert Camus