"E às três da madrugada, estamos todos de relógio em punho, uma mão invisível deu o sinal - e a revolução começou. Pelo ardor humano da justiça, pela cólera pelo insuportável do sonho, pelo gosto de mexer, pelo desejo de estar a horas à passagem da História, pelo prazer de também ficar no retrato comemorativo, por não haver nada que fazer, pela chatice da vida, pela necessidade de tomar banho e não cheirar mal, por se querer aproveitar a esperança enquanto ainda está limpa, sem comentário das moscas, pelo gosto de mudar de fato e de camisa e talvez mesmo de cuecas, por uma cerca macaqueação da divindade criadora, pela alegria de reinventar a manhã quando o dia já vai adiando, por um certo excesso de energia disponível, pela força da fé, pelo remorso, porque sim - a revolução começou. Era uma noite de inverno, geométrica, nua. Limpa."
Vergílio Ferreira, in 'Nítido Nulo'
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