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quarta-feira, 8 de julho de 2009

A intimidade da presença - Vergílio Ferreira


"Vegetação seca no recorte das dunas, vejo-a, lembra-me a brisa de sal. Um barco passa quase à borda da água - será o de há pouco? um petroleiro talvez. Pesado, vagaroso, um friso de espuma ao corte da proa. Alegria marítima, o sol rasgado de horizonte a horizonte, espaço absoluto. E o azul vivo na grande pedra do mar. É o que sobretudo me comove, esta verdade original das coisas. Frescura intacta e nula, força íntima de ser - e o vazio da sua justificação. O mundo é vivo e alegre, luz virgem, e só eu o sei, acidental, aqui, um instante lúcido. O ser não se justifica, apenas é - sê apenas. Que a tua complicação e o jogo encravado e o erro imprevisível que só é previsível em marcha atrás,..."

Vergílio Ferreira in Nítido Nulo

Evidência paradigmática - Vergílio Ferreira


"Porque na realidade, não estou à espera de nada. A morte, decerto. Mas a morte não se espera - acontece. Como numa doença incurável, deve ser assim. Entre a condenação e a execução, nos breves minutos que sejam deve ser parecida. No mais pequeno intervalo cabe a vida toda e dentro da vida é-se eterno, não estou à espera de nada. Roça absoluta de si, o além dela é não, agora não. Pára, vazio de tudo, na dispersão ausente do teu olhar distraído. Na adstringente secura dos cigarros ininterruptos, do salgado dos tremoços e da maresia, na automação circular da sede que renasce da sede que se calou, como o triunfo que se esquece na razão de triunfar e que nunca triunfa, se bebesses? E um instante a paz regressa, intervalada no esquecimento do desassossego, a seguir."

Vergílio Ferreira in Nítino Nulo