quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Uma resposta - Sávio


O que eu sinto e penso quando caminho pelas ruas, é um resumo do que sinto e penso quando caminho pela vida toda. Eu carrego uma carga de tentativas, não sinto antes tamanha convicção como sentia na infância, quando os dragões das histórias eram vencidos na minha imaginação e eu só, dentro do quarto. O que sinto antes não me parece uma grande questão quando esses monstros ressurgem. Tenho tentado vencer grandes paradigmas, tenho tentado vencer grandes questões!

Estive numa investida contra as injustiças, estive também em investidas de outras reivindicações. Eu fui até a praça. Domingo de tarde. A cidade parada. Chegaram alguns poucos pra acompanhar, quase nenhum, como os que lerão essa postagem. O resto esteve sem motivo, sem razão que os levassem a se levantar. Toda a gente está contaminada com isso. Esqueceram-se dos dragões. Eu, como disse, não sinto antes o que venho a sentir em instantes de atitude. A adrenalina não vem com a decisão. A decisão está em outro patamar. O que eu carrego é a iniciativa. A vontade de experimentar. Talvez faltou o brilho que me fizesse desejar, mas nem tudo tem um artista que fizesse a comida parecer saborosa como na foto. Na verdade, as coisas que realmente interessam descobrimos tropeçando nelas, quando partimos pra outras. Ficamos no meio do caminho quase sempre, terminamos os pretextos, as atitudes verdadeiras estão perdidas esperando que demos a atenção devida.
(Sávio)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A tua calma me saudará - Pablo Neruda

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Pablo Neruda - trecho da poesia 'O Poço'.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Do guerreiro - Robert Musil


A política, a honra, a guerra, a arte, tudo o que há de mais decisivo na vida acontece para lá do entendimento. A grandeza humana tem raízes no irracional. Nem nós, os homens de negócios, agimos por cálculo, como talvez o senhor imagine. Nós - falo, naturalmente, daqueles poucos que se distinguem; os pequenos, esses continuarão a contar os seus tostões - aprendemos a ver as nossas ideias realmente bem sucedidas como um mistério que troça de qualquer cálculo. Quem não amar o sentimento, a moral, a religião, a música, a poesia, a forma, a disciplina, o código cavalheiresco, a liberalidade, a franqueza, a tolerância - acredite, nunca chegará a ser um grande homem de negócios. Por isso, sempre admirei a profissão do guerreiro; (...) todas as grandes coisas dependem das mesmas qualidades.

Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'