quarta-feira, 15 de julho de 2009

Cada vez mais indivíduo - Albert Camus

Mandar é respirar, não é desta opinião? E até os mais deserdados chegam a respirar. O último na escala social tem ainda o cônjuge ou o filho. Se é celibatário, um cão. O essencial, em resumo, é uma pessoa poder zangar-se sem que outrem tenha o direito de responder. «Ao pai não se responde», conhece a fórmula? Em certo sentido, ela é singular. A quem se responderia neste mundo senão a quem se ama? Por outro lado, ela é convincente. É preciso que alguém tenha a última palavra. Senão, a toda a razão pode opor-se outra: nunca mais se acabava. A força, pelo contrário, resolve tudo. Levou tempo, mas conseguimos compreendê-lo. Por exemplo, deve tê-lo notado, a nossa velha Europa filosofa, enfim, da melhor maneira. Já não dizemos, como nos tempos ingénuos: «Eu penso assim. Quais são as suas objecções?» Tornámo-nos lúcidos. Substituímos o diálogo pelo comunicado.

Albert Camus, in A Queda

2 comentários:

Henrique disse...

Responder a quem se ama. Talvez essa seja uma das mais reais provas de amor, posto que o "eu" verdadeiro se mostra sem rodeios e máscaras. Acho que aprendemos a amar errado.

Henrique disse...

Responder a quem se ama. Talvez uma das maiores provas de amor, pois com o ato o verdadeiro "eu" vem à tona, sem rodeios e máscaras.
Talvez tenhamos aprendido a amar errado.